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 3º Assunto da Semana

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AutorMensagem
Cláudio Moreira
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Cláudio Moreira


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Data de inscrição : 09/12/2008

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MensagemAssunto: 3º Assunto da Semana   3º Assunto da Semana I_icon_minitimeSeg Abr 13, 2009 5:05 pm

Excerto de 'O caso mental português', de Fernando Pessoa. O texto data de 1932.

O CASO MENTAL PORTUGUÊS

Os homens, desde que entre eles se levantou a ilusão ou realidade chamada
civilização, passaram a viver, em relação a ela, de uma de três maneiras, que
definirei por símbolos, dizendo que vivem ou como os campónios, ou como
provincianos, ou como citadinos. Não se esqueça que trato de estados mentais e
não geográficos, e que portanto o campónio ou o provinciano pode ter vivido
sempre em cidade, e o citadino sempre no que lhe é natural desterro.

Ora a civilização consiste simplesmente na substituição do artificial ao natural no
uso e correnteza da vida. Tudo quanto constitui a civilização, por mais natural que
nos hoje pareça, são artifícios o transporte sobre rodas, o discurso disposto em
verso escrito, renegam a naturalidade original dos pés e da prosa falada.
A artificialidade, porém, é de dois tipos. Há aquela, acumulada através das eras, e
que, tendo-a já encontrado quando nascemos, achamos natural; e há aquela que
todos os dias se vão acrescentando à primeira. A esta segunda é uso chamar
«progresso» e dizer que é «moderno» o que vem dela. Ora o campónio, o
provinciano e o citadino diferençam-se entre si pelas suas diferentes reacções a
esta segunda artificialidade.

O que chamei campónio sente violentamente a artificialidade do progresso; por isso
se sente mal nele e com ele, e intimamente o detesta. Até das conveniências e das
comodidades do progresso se serve constrangido, a ponto de, por vezes, e em
desproveito próprio, se esquivar a servir-se delas. É o homem dos «bons tempos»,
entendendo-se por isso os da sua mocidade, se é já idoso, ou os da mocidade dos
bisavôs, se é simplesmente párvulo.

No pólo oposto, o citadino não sente a artificialidade do progresso. Para ele é como
se fosse natural. Serve-se do que é dele, portanto, sem constrangimento nem
apreço. Por isso o não ama nem desama: é-lhe indiferente. Viveu sempre (física ou
mentalmente) em grandes cidades; viu nascer, mudar e passar (real ou
idealmente) as modas e a novidade das invenções; são pois para ele aspectos
correntes, e por isso incolores, de uma coisa continuamente já sabida, como as
pessoas com quem convivemos, ainda que de dia para dia sejam realmente
diversas, são todavia para nós idealmente sempre as mesmas.

Situado mentalmente entre os dois, o provinciano sente, sim, a artificialidade do
progresso, mas por isso mesmo o ama. Para o seu espírito desperto, mas
incompletamente desperto, o artificial novo, que é o progresso, é atraente como
novidade, mas ainda sentido como artificial. E, porque é sentido simultaneamente
como artificial é sentido como atraente, e é por artificial que é amado. O amor às
grandes cidades, às novas modas, às «últimas novidades», é o característico
distintivo do provinciano.

Se de aqui se concluir que a grande maioria da humanidade civilizada é composta
de provincianos, ter-se-á concluído bem, porque assim é. Nas nações deveras
civilizadas, o escol escapa, porém, em grande parte, e por sua mesma natureza, ao
provincianismo. A tragédia mental de Portugal presente é que, como veremos, o
nosso escol é estruturalmente provinciano.

Isto é apenas um pequeno trecho de um texto publicado numa revista, no ano de 1932. Após a sua leitura, és capaz de identificar as semelhanças com 2009?
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